[Artigo impresso] É possível viver de day-trading ?

[Artigo impresso] É possível viver de day-trading ?

[RESUMO] Em março passado, dois pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas publicaram um artigo no ‘Portal do Investidor’ da Comissão de Valores Mobiliário (CVM) com o título ‘É possível viver de day-trading?’. O artigo repercutiu no mercado por afirmar que o day-trading não pode ser considerado uma nova profissão, por se tratar de atividade de alto risco. Mas teve gente do mercado que apontou problemas na pesquisa.

Com dados fornecidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), dois pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) buscaram responder às seguintes perguntas:

  • Quantas pessoas fizeram day-trading entre 2013 e 2015 ?
  • Qual foi o resultado obtido por aquelas pessoas que realizaram operações de day-trade díariamente?
  • É possível viver com day-trading ?

O objetivo do trabalho dos pesquisadores Fernando Chague e Bruno Giovanetti era descobrir se a atividade de day-trading pode ser uma alternativa profissional, uma nova ‘profissão’ a qual se possa dedicar tempo integral e ter uma renda mensal. A pesquisa observou um total de 19.696 pessoas que começaram a fazer day-trade de 2013 a 2015. Dessas, 1.558 fizeram day-trades em mais de 300 pregões. Foram essas 1.558, que os pesquisadores definiram como ‘day traders’ profissionais: as pessoas que persistiram. O foco da pesquisa está nessas pessoas. Chague e Giovannetti concluem que:

Os dados não são animadores. […] 91% (1.415) dessas 1.558 pessoas tiveram lucro negativo. Dos 9% que conseguiram lucro positivo, apenas 13 pessoas (menos de 1%) conseguiram lucro médio diário acima de R$ 300,00.

Das 1.558 pessoas que passaram pelo período de aprendizado de 1 ano e continuaram a fazer day-trade, a grande maioria teve prejuízo (91% se considerarmos o período todo, 88% se consideramos só os pregões a partir do 250o) e um número bem reduzido de pessoas obteve lucro médio diário acima de R$ 300,00 (13 se considerarmos o período todo, 15 se consideramos só os pregoes a partir do 250o).

Os pesquisadores entenderam que não há sentido, ao menos econômico, em tentar viver de day-trading. Os números indicam que a chance de obter uma renda significativa (por exemplo, maior do que R$ 300,00 por dia) é remota para as pessoas que persistem na atividade. Em contrapartida, a chance de se obter prejuízo é muito elevada. Os números indicam, segundo os pesquisadores, que, à medida que o day trader vai persistindo na atividade, seu desempenho vai piorando.

Mas para Rodrigo Cohen, trader e analista financeiro profissional, o estudo dos professores tem alguns problemas. Em artigo publicado no Jornal Contábil, ele aponta vários pontos falhos na pesquisa. Aqui destacamos quatro:

  1. A meta de R$ 300,00 de lucro (estabelecida na pesquisa) por dia é muito alto. Ganhar R$ 300,00 já é muito para muita gente por aí. Alguém que ganhasse em média R$ 250 por dia (R$5000 por mês considerando 20 pregões) já estaria entre os 7% mais rico do Brasil.
  2. O day trading pode ser vista simplesmente como uma renda extra e não como uma profissão em si.  Rodrigo Cohen acredita que em nenhum momento do estudo, as tais 1558 pessoas afirmaram que começaram a operar no day trade com o objetivo de ‘viver de day-trading. Muitos buscariam no day trade apenas uma renda extra. E R$ 2000 reais de renda extra, por exemplo, não seria nada mal em um país em que mais de 52 milhões de pessoas sobrevivem com apenas R$387 por mês.
  3. A amostra de dados é incompleta. O banco de dados entregue para análise – segundo os autores – contém a atividade de trading completa de todos os indivíduos, em contrato mini-índice e mini Dólar, em todos os dias de 2012 a 2017. Mas o estudo não aborda os contratos de 2016 e 2017, eles citam apenas os períodos de 2013 a 2015. O estudo não aborda 2016 e 2017 e não inclui os contratos cheios, apenas os de mini-índice e mini dólar.
  4. O cenário mudou muito desde 2013. A participação de pessoas físicas na bolsa aumentou consideravelmente nos últimos anos. Em 2013 não haviam  tanta salas abertas de trading como temos atualmente, as plataformas profissionais eram muito caras e não havia sequer cursos acessíveis. Atualmente, haveriam profissionais mais preparados e plataformas mais sofisticadas.