A financeirização é a mundialização dos fluxos de capitais financeiros, isto é, a mundialização financeira.. E a globalização é a mundialização dos processos produtivos. Portanto, a financeirização aconteceu quando os fluxos de investimento de capitais puderam atravessar livremente as fronteiras dos países. E, em outras palavras, a globalização aconteceu quando a produção de mercadorias foi distribuída pelo mundo em cadeias produtivas globalizadas.
Em suma, a financeirização é a globalização financeira. Globalização e financeirização são fenômenos ligados ao desenvolvimento do estágio atual do capitalismo. E podem significar tanto o uso de capitais para o financiamento de atividades produtivas mas também para a especulação financeira.
Neste post, você vai entender:
- O que é financeirização
- O lado ruim da financeirização
- E o lado bom da financeirização
O que é financeirização
A financeirização é a mundialização financeira. Isto é, a financeirização é a mundialização dos fluxos de capitais de investimento. A produção se expandiu em cadeias globais produtivas em diferentes países. Consequentemente, os fluxos de investimento também se globalizaram. Em poucas palavras, uma cadeia global produtiva acontece quando uma multinacional fabrica diferentes partes de seus produtos (ou produtos inteiros, mesmo) em países diferentes.
O sociólogo François Chesnais tratou deste assunto em ‘‘A Finança Mundializada” (2005). Para Chesnais, o capitalismo, que conhecemos depois dos anos 1980, é um regime de dominação financeira ou ‘financeirizado’. Isto é, existe um predomínio da forma de obter lucro não pela produção de mercadorias, mas pela especulação de capitais.
Chesnais acredita, portanto, que a financeirização é uma mundialização da esfera financeira.
a expressão ‘mundialização do capital’ é a que corresponde mais precisamente à substância do termo inglês globalisation. […] o termo globalisation traduz a capacidade estratégica do grande grupo de adotar uma abordagem e uma conduta global, (…) . Na esfera financeira, vale a mesma coisa (…)
Além de tudo isso, o termo “financeirização” descreve, sobretudo, a mudança na economia capitalista do foco na produção para o financiamento. As receitas e os lucros do setor financeiro tornaram-se um segmento cada vez maior da economia mundial. Suas instituições, instrumentos e motivos estão tendo uma influência significativa nas operações e no entendimento dos negócios.
Por exemplo, operações de recompra e derivativos são exemplos clássicos de movimentação financeira neste sentido da financeirização. Recompra acontece quando a empresa compra suas próprias ações com o objetivo de aumentar o preço destas. E os derivativos são instrumentos financeiros cujo preço de mercado deriva do preço de mercado de um bem ou de outro instrumento financeiro. Os derivativos servem para proteger investimentos em ambientes pouco preditivos aos estarem atrelados a índices mais estáveis no mercado, como o dólar, por exemplo.
O lado ruim da financeirização
A crise de 2008 trouxe uma onda de críticas aos efeitos negativos da financeirização – sobretudo aos aspectos ligados ao uso da especulação para ganhar dinheiro. Por exemplo, ataques especulativos sobre moedas foram capazes de desestabilizar países inteiros – vide o ataque que o Real brasileiro sofreu em 1998.
Em outras palavras, uma parte cada vez mais importante das receitas das empresas vem de movimentações de capital na esfera financeira e não da esfera produtiva. Isto é, uma grande parte da receita das empresas vem de aplicações financeiras e não da produção de mercadorias.
O lado ruim da financeirização está nesse aspecto: muitas vezes as empresas decidem concentrar seus esforços não em produzir mercadorias, mas em especular com seus capitais e, consequentemente, gerar mais valor para suas ações. O problema da especulação é que ela está voltada para o curto prazo e só vai beneficiar os proprietários das ações, mas não a empresa ou o sistema de uma maneira mais geral.

E o lado bom da financeirização
Mas o avanço do setor financeiro também trouxe alguns benefícios. Primeiramente, o boom do setor financeiro concedeu a milhões de pessoas acesso mais fácil ao crédito para consumo e produção. Além disso, os derivativos possibilitaram diminuir o risco em alguns investimentos, que jamais seriam feitos se não houvessem tais instrumentos financeiros. A financeirização, neste aspeto, é a mundialização financeira de investimentos e não de movimentos especulativos.
Além disso, os fundos de investimento – instrumentos típicos criados pela lógica da financeirização, estão cada vez mais socialmente responsáveis. Uma prova disso é a ascensão dos chamados ‘fundos de impacto social’. Isto é, fundos que só investem seus valores em empresas que propiciam desenvolvimento social. Por exemplo, no Brasil, já temos o Yunus Negócios Sociais e o Vox Capital .
Também podemos observar o aumento do microfinanciamento como um componente da financeirização. O fornecimento de pequenos empréstimos a homens e mulheres nos países em desenvolvimento permite que eles iniciem pequenos negócios, melhorando sua renda e proporcionando mais estabilidade para suas famílias.
Conclusão
A crescente importância do setor financeiro na economia é certamente impulsionada pela globalização. As operações criadas para movimentar dinheiro e financiar negócios, facilmente atravessando fronteiras, foram benéficas ao sistema como um todo. Por exemplo, os derivativos servem para proteger investimentos em ambientes pouco preditivos ao estarem atrelados a índices mais estáveis.
Sem os novos produtos financeiros surgidos a partir da mundialização financeira, os bens e serviços seriam mais caros e menos disponíveis. Portanto, podemos dizer que a financeirização é uma nova fase do capitalismo, com seus problemas, mas também alguns benefícios importantes.
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